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A poesia é liberta, não tem senhores; é sozinha, ao mesmo tempo multidão. Seu canal é o poeta, por onde passa, arrastando veias, fígado, mãos, olhos, coração.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

CAETANO TIRA GAL DA MESMICE, DIZ A VEJA


Quem escuta Recanto Escuro, canção que abre Recanto, a nova investida fonográfica de Gal Costa e Caetano Veloso, percebe já no início do disco o quanto a cantora se arriscou. O som pesado e eletrônico da faixa, prenúncio do que virá nas outras dez, é em tudo distante da produção mais recente da baiana, calcada em um repertório de standards da MPB. Com o álbum, uma criação sua interpretada pela amiga e colega de Tropicália, Caetano deu a Gal a chance de experimentar. De sair da mesmice. E ela de fato saiu. Mas é só. O problema de Gal permanece: ela perdeu a imaginação de intérprete que um dia teve, e se apóia apenas na técnica para cantar.

Em entrevistas para divulgar o disco, é isso que Caetano Veloso tem ressaltado: a precisão vocal de sua amiga. Esse canto preciso, diz ele, casaria bem com a frieza da música eletrônica. Isso é uma meia verdade - ou talvez menos que isso. Países onde a eletrônica já se incorporou à música popular há décadas têm contingentes de cantoras a povoar, das maneiras mais diversas, a paisagem sonora criada pelos computadores: trace-se um arco, digamos, da extravagante Kate Bush, que despontou nos anos 70, à melancólica Beth Gibbons, do Portishead, nos anos 2000, passando por Elizabeth Frazer ou Björk. As próprias cantoras jovens da música brasileira incorporam ruídos artificiais aos seus trabalhos já faz algum tempo, como um elemento extra que serve a múltiplas finalidades.

A frieza e a dureza da eletrônica, portanto, são aquelas que Caetano Veloso elegeu - são uma escolha conceitual, não uma necessidade. A certa altura, o músico pensou em batizar o disco de Segunda – sugerindo não apenas a continuação de Domingo, disco com que ele e Gal estrearam no mercado, em 1967, mas também chegada de uma nova, uma segunda Gal. Infelizmente, contudo, não existe essa segunda cantora. Para aqueles que ouvem os discos dos anos 70 e 80, a Gal que surge em meio ao gelo e à dureza deste Recanto é apenas uma Gal diminuída às dimensões de sua voz, e sem qualquer força de intérprete.

Leia mais em http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/com-recanto-caetano-tira-gal-da-mesmice-mas-e-so

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