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A poesia é liberta, não tem senhores; é sozinha, ao mesmo tempo multidão. Seu canal é o poeta, por onde passa, arrastando veias, fígado, mãos, olhos, coração.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

COM A PALAVRA RODRIGO LACAZ

DESRESPEITO, ABUSO E, SIM, CENSURA.

"Tudo isso ocorrido Sábado passado (03/09/2011), em praça pública, ao cortarem meu som em pleno show, com as bênçãos da Secretaria Extraordinária de Cultura do RN.

Chamo-me Rodrigo Lacaz, cantor, guitarrista e compositor natalense.



Fui contratado, com uma semana de antecedência, para realizar dois shows no Festival Gastronômico Sabor Potiguar, incluso no projeto “Agosto da Alegria”, da Secretaria Extraordinária de Cultura do RN. O festival gastronômico foi promovido em parceria com a Secretaria de Agricultura. Minhas apresentações seriam realizadas na Praça Sete de Setembro, centro da cidade, nos dias 01 e 03/09 (quinta e sábado).

Ao realizar meu primeiro show, na quinta-feira, houve algumas surpresas desagradáveis, como redução do meu tempo para inserirem apresentações extras, não previstas na programação previamente estabelecida e divulgada. De toda forma, entendi a situação dos demais artistas e tranquilamente sacrifiquei parte de minha apresentação para viabilizar a performance daqueles.

NADA SERIA TÃO DESAGRADÁVEL QUANTO O QUE ESTAVA POR VIR... Ao término do show de quinta-feira, Marcelo Veni (produtor cultural, convocado pela Sec. de Agricultura para mediar a minha contratação) informou-me do CURIOSO descontento da Sra. Secretária Extraordinária de Cultura, Isaura Rosado, a respeito de algumas músicas internacionais tocadas por mim, que para ela “não se enquadravam num evento cultural do estado”, solicitando-me para o show seguinte (sábado) que eu enfocasse músicas nacionais no repertório.

Intrigante como o conceito de cultura é encarado de uma forma um tanto confusa por alguns que se propõem a trabalhar no ramo. Mais confusa ainda, quando esse conceito é contextualizado à esfera local, numa cidade ao mesmo tempo provinciana e cosmopolita, que é Natal. Talvez, na citação do poeta Josean Rodrigues, muitos “pensem que nossa cultura é o boi-bumbá do Maranhão, (...) o axé da Bahia e o frevo pernambucano”. “Eu vejo tantos shows estranhos sendo pagos pelos cofres públicos”, e ninguém diz nada.

Em Mossoró, terra da governadora Rosalba Rosado e da secretária Isaura Rosado, a cortejada festa junina da cidade é repleta de artistas sertanejos, de axé, suingueira, e outro gêneros que nada têm a ver a com tal festividade folclórica. E tudo flui tranquilo. No mínimo, incoerência, não é?

Mas conceitos à parte, O PIOR AINDA ESTAVA POR VIR...

Falei para Marcelo Veni e Rosane (da Sec. De Agricultura), por sinal muito educada, que eu poderia, sim, acrescentar algumas músicas nacionais ao meu repertório, que também já era formado de composições minhas em português. Mas frisei que não seria possível abandonar por completo as internacionais, haja vista que meu show estava planejado de modo a incluir várias delas, e mudar bruscamente um repertório de última hora é complicado, qualquer artista sabe disso. Principalmente, para quem usa programações eletrônicas, que é o meu caso.

Além do mais, essa restrição só fora mencionada no dia do primeiro show, até mesmo para o próprio Marcelo Veni. Ou seja, quando tudo já estava acertado, divulgado, preparado. Ora, artista não é vitrola, e não seria eu que iria sacrificar a minha proposta artística para satisfazer vontades tardias de contratante algum. Ao passo que nenhum contratante gostaria de se surpreender com exigências complicadas de última hora, não é? O Direito vale para os dois lados.

No sábado, estando eu já pisando no palco, a produtora Danielle Brito (contratada pela Sec. Extraordinária de Cultura para coordenar o projeto “Agosto da Alegria”) lembrou a Marcelo Veni que eu não deveria tocar músicas internacionais, para o que ele respondeu que aquele não seria momento de restringir repertório de ninguém.

Iniciei, pois, meu show de sábado, já misteriosamente reduzido de 3h a 1h30min. Toquei, entre composições minhas e versões covers, três clássicos internacionais (de John Lennon, Andrea Bocelli e Cyndi Lauper). PARA MINHA SURPRESA, NO INTERVALO ENTRE UMA MÚSICA E OUTRA, aproximou-se um homem da produção do festival, de nome Fernando, que sem nenhuma simpatia e nenhuma explicação disse-me: “A PARTIR DE AGORA, NÃO TOQUE NADA DE INTERNACIONAL”; respondi-lhe educadamente que eu ainda teria algumas músicas internacionais para tocar. E ele, ainda ríspido: “TOQUE APENAS O QUE FOR EM PORTUGUÊS E DEPOIS ENCERRE O SHOW. NÃO PODE TOCAR INTERNACIONAL”. Diante da minha recusa (até o momento, de forma amigável), ele respondeu: “VAI TER QUE SER ASSIM.” E eu, como não tenho paciência infinita diante de tanta truculência, tive que responder: “Tudo bem, mas vai ter volta.”

Enquanto o público permanecia em frente ao palco sem saber o que estava ocorrendo, o mesmo Fernando INVADIU O PALCO E DIRIGIU-SE À MESA DE SOM PARA CORTAR O MEU MICROFONE. Percebendo o constrangimento iminente, aproveitei os últimos segundos para dizer ao público que eu estava sofrendo censura e iriam interromper meu show. Com o som cortado, passei a explicar em voz alta o motivo absurdo (músicas internacionais). Toda a platéia respondeu à produção com gritos de indignação e uma sonora vaia.

Não satisfeito com a grosseria cometida, o mesmo Fernando (que era contratado pela Sec. Extraordinária de Cultura e agia por ordem desta), gritou para mim: “VOCÊ É UM INEXPERIENTE!”, “VOCÊ VAI SE PREJUDICAR MUITO!”.

Ou seja, DEPOIS DE TUDO, SOFRO AMEAÇAS EM NOME DO ESTADO. Devo sentir-me intimidado?

Marcelo Veni tentou me persuadir a voltar ao palco. O público também bradava por isso. E foi somente em respeito ao público que reiniciei o show, abstendo-me de tocar as poucas músicas internacionais que planejava.

Nos bastidores, muita movimentação entre a produção do evento. Todos muito preocupados com a imagem que teriam diante do público, em razão da palavra “censura”, dita por mim no palco (ORA, SE NÃO FOI CENSURA, FOI O QUÊ, CAROS AMIGOS?). Nenhum deles preocupados em pedir desculpas ao artista e ser humano que acabara de sofrer colossal humilhação. COVARDES.



Não estão acima da Constituição brasileira, que alberga como princípio fundamental a DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (art. 1º, III) e assegura a LIVRE EXPRESSÃO ARTÍSTICA (art. 5º, IX), VEDANDO QUALQUER CENSURA DE NATUREZA POLÍTICA, FILOSÓFICA E ARTÍSTICA (art. 220, §2°).

Mas sabemos bem que, em se tratando de afronta à Constituição, o poder estatal em suas três esferas já é craque, desde tempos longínquos...

Não reclamo indenização nenhuma. Apenas seria digno que a Secretaria Extraordinária de Cultura tivesse a humanidade e retidão de se desculpar pelo absurdo constrangimento que um artista e ser humano padeceu sob um poder estatal que deveria representá-lo.

Não havendo resposta, que ao menos esse texto sirva de alerta aos cidadãos, eleitores, artistas e apreciadores deste estado."

Rodrigo Lacaz.

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