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A poesia é liberta, não tem senhores; é sozinha, ao mesmo tempo multidão. Seu canal é o poeta, por onde passa, arrastando veias, fígado, mãos, olhos, coração.

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

+++++ PASSAGEM DESBOTADA NA MEMÓRIA +++++

VAI PASSAR

Chico Buarque



Vai passar nessa avenida um samba popular

Cada paralelepípedo da velha cidade essa noite vai se arrepiar

Ao lembrar que aqui passaram sambas imortais

Que aqui sangraram pelos nossos pés

Que aqui sambaram nossos ancestrais

Num tempo página infeliz da nossa história,

passagem desbotada na memória

...Das nossas novas gerações

Dormia a nossa pátria mãe tão distraída

sem perceber que era subtraída

Em tenebrosas transações

Seus filhos erravam cegos pelo continente,

levavam pedras feito penitentes

Erguendo estranhas catedrais

E um dia, afinal, tinham o direito a uma alegria fugaz

Uma ofegante epidemia que se chamava carnaval,

o carnaval, o carnaval

Vai passar, palmas pra ala dos barões famintos

O bloco dos napoleões retintos

e os pigmeus do boulevard

Meu Deus, vem olhar, vem ver de perto uma cidade a cantar

A evolução da liberdade até o dia clarear

Ai que vida boa, ô lerê,

ai que vida boa, ô lará

O estandarte do sanatório geral vai passar

Ai que vida boa, ô lerê,

ai que vida boa, ô lará

O estandarte do sanatório geral... vai passar

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